terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Passos pesados ecoam sobre a poeira. Os pequenos bichos correm para se esconder.
É como entrar numa casa abandonada, tomada pela natureza, pelo lodo, pelo escuro. 
Ler tudo que ficou intacto aqui, sobras de todos aqueles anos, me faz sentir assim.
É pesado. Escuro, acelerado. Sempre parecendo que eu não sobreviveria.
Lembra quantas vezes eu falei em fugir? Nunca o fiz...
Para você, que pode estar aqui pela primeira vez, não importa, mas se você é um peregrino dos bons pelas histórias de vidas alheias perdidas nessa enorme rede.. talvez importe.
Eu fiquei, estou na mesma cidade, no mesmo apartamento, usando as mesmas roupas, com o mesmo nome.
Lutei contra o que me habita, talvez seja vago dizer que o domino, mas posso afirmar que não me domina mais. 
Cada noite, cada caminhada pelas noites escuras nesse bairro que nem deve existir no mapa, cada cigarro que ardeu a garganta e cada gole traiçoeiro, me recordo de tudo. Bem aqui. Neste mesmo lugar, neste pequeno corpo.. e quem olha nem desconfia. 
Ou desconfia, já que o que sobrou disso tudo é o que eu não posso mudar: meu semblante.
Tudo isso se guarda na íris, é o que escurece-me o olhar, me molda, me identifica na multidão. 
Marcada pelo que atravessei, agora caminho, sem colisões aparentes, sem arranhões, alheia.
Mais um ser humano de alma pesada e olhos escuros. 

Um comentário:

darkblue disse...

Que orgulho de ti, Joezinha <3 Vontade louca de te abraçar, dar um daqueles abraços que chegam a causar uma dorzinha nas costelas de tão fortes que são. Você é sem dúvida alguma a pessoa mais linda, forte e única que eu conheço, e nada me alegra mais do que saber da existência de nossa sintonia, de saber que nossos passos mesmo que distantes tendem a ritmarem-se. Te amo tanto, pequena.