domingo, 12 de setembro de 2010

Essência estranha - Parte III

- Sim , bem branca. Parece até neve. Exato. Ela é incrível . Não. Na verdade ela é distante , sim , parece que nada pode alcançá-la , não sei se sofre , não sei se gosta. Por isso te procurei , preciso saber.
- Mas porque quer tanto saber ? Não disse que nunca a viu antes?
- Você não vai entender , precisa vê-la. Encontre-a , vasculhe- essa cidade de todas as formas , sonde-a , descubra quem ela é , porque eu não posso mais dormir sem saber disso. É muito sério.
- Tudo bem , é o meu trabalho . Vou encontrá-la para você , mas isso pode nos custar caro. Talvez ela não queira ser encontrada ou incomodada.
- Eu pago qualquer preço. Em qualquer sentido.
- Certo. Te ligo qualquer hora dessas.
- Obrigada.

Naquela tarde , nevou.
Tomei vários cafés , fiquei observando como as pessoas se vestem , como gesticulam falando ao telefone.
Me lembrei de umas coisas que havia lido , em que as pessoas , muito apaixonadas , viam o rosto da pessoa amada nos desconhecidos nas ruas.
Por um instante eu quis mesmo ver aquele rosto assustado e pálido no lugar dos rostos cansados da jornada diária de trabalho.
Mas era impossível. Eu caminhava devagar , olhando para todos os lados , forçando as vistas para enxergar melhor , talvez atrás de um arbusto , talvez num café qualquer , num brechó , eu precisava encontrá-la.
E eu nem sequer sabia porque.

O meu coração disparava durante o sono quando eu via o vulto dela nos meus sonhos , eu despertava esperançosa , desejando fitá-la sentada nos pés de minha cama , enchendo de fumaça o meu quarto , e derrubando as cinzas nos meus sapatos espalhados pelo chão.
Por vezes , podia senti-la sentada no mármore da pia do banheiro, de calcinha e usando uma camisa com o desenho de uma cereja que tinha um pavio no lugar do cabo da fruta. Com os cabelos molhados e a maquiagem borrada que ela não tirara na noite anterior.
Eu já não morava sozinha . Éramos eu e Agatha . Eu e aquela sensação de que eu iria me virar e esbarrar nela . Sorrir e beijá-la e dizer como nos filmes : "Nem te vi chegar , querida".

Um dia , antes de dormir , um pensamento solto me assustou.
Talvez eu estivesse amando-a . Talvez eu a encontrasse.
Mas alguém tão incrível se importaria comigo ?
Afinal , que diferença faria o amor de alguém como eu ?
A moça dos amores de Cafés , a lunática que se apaixonou uma vez pelo cara da livraria.
Onde é que estava o meu senso ?

Onde é que estava Agatha ?

{continua}

2 comentários:

Ludmilla Cardoso de Oliveira disse...

é, essa coisa de sonhar e achar que é realidade, a gente acorda espantada, querendo voltar ao sonho para viver mais um pouco daquilo tudo. Abraço.

darkblue disse...

Menina! GTDGYSD
Joe, é nessas horas que eu percebo mais claramente (não vá pensar que nas outras não percebo nada) porque te amo tanto e de uma forma tão profunda, suas palavras me devoram, me matam aos pouquinhos e por fim me aninham e me oferem um colo quente.
Fique sabendo que está escrevendo cada dia melhor, e que Agatha a cada continuação desperta em mim uma admiração ainda maior. Continue, depressa, continue.