Arraste uma cadeira .
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Me escreverei cartas de amor.
Entendi que preciso me libertar da necessidade de estar sempre ligada a alguém. Sempre em contato com alguém. Triste hábito que a ansiedade me trouxe desde muito cedo. A ideia de que só estaria segura com outra pessoa me cuidando, falando comigo, fazendo com que eu mantivesse contato com algo externo a mim, uma espécie de âncora pro caso deu me perder dentro de mim. Que traz justamente esse efeito. Âncora. Peso. Ninguém deve ocupar esse lugar porque ele não deve existir. Logo, ele jamais funciona. Ao longo dos anos muitas pessoas que eu amei me deixaram aos pedaços. Em qualquer tipo de relação. Principalmente de amizade. Eu queria estar sempre ao lado, pra tudo. Sendo ingênua, já que isso não é possível. Em nenhuma relação isso existe. Aliás, existe. A relação consigo mesmo. Esta precisa ser sempre nutrida e bem cuidada. Estarei comigo até o fim, minha única obrigação é comigo. Eu cresci achando que a forma mais bonita de amar era amar alguém incondicionalmente com todas as suas nuances sem nunca considerar esse amor para o eu. O que é facilmente compreensível quando você lida com depressão e complexo de inferioridade. E eu nunca entendi por que as pessoas não me devolviam nunca todo o amor que eu dava para elas. Já que de fato tudo que damos ao mundo retorna para nós. E a mim só retornava dor e decepção. Acho que nem preciso citar o fator de atribuir aos outros expectativas só minhas, mas fica aí o tópico pra você pensar também. E só assim é que eu finalmente inicio um processo que provavelmente vai durar o resto da vida. O processo de resistir ao meu impulso ansioso de sempre precisar falar na hora o que sinto, de sempre achar que vou morrer amanhã e vai ser tarde demais. Quem nos dera fosse. O processo envolve ouvir minha intuição que é sempre aquele sussurro quase inaudível, que inclusive na última desventura me pedia pra ir dormir, pra refletir melhor e processar os fatos todos. E eu não ouvi, infelizmente. Mandei a mensagem julgando que expor meu sentimento era o mais certo a fazer. E pra essa situação especifica realmente não foi o melhor. Doeu, machucou, quebrou, e não era necessário. Assim como nada mais é. E toda urgência daqui pra frente será sempre acolhida com paz e tempo. Reflita mais. Espere mais. Se amanhã for tarde demais, tudo bem. É melhor do que ser magoado. É melhor do que viver colecionando decepções. É melhor do que esperar acolhimento e receber uma indiferença ensurdecedora. Simplesmente porque não era a hora. Porque eu não me dei ouvidos. Porque a paranoia e o estresse e o desespero me cegaram. Entretanto, sou grata por tudo que aconteceu, agilizou processos que demorariam, não fosse pela imensa tristeza que se seguiu. Mostrou que a única pessoa em quem devemos confiar é a que está debaixo da nossa própria pele. Do outro, espere tudo e mais um pouco. Seja seu abrigo, seja sua paz, seja seu porto. Talvez leve tempo, não é simples, mas vai mudar tudo. Vai resinificar tudo. Seja o grande amor da sua vida. Seja o que você precisa, seja o colo, seja o que ninguém quer ser. Não por maldade, mas porque só você pode ser isso pra si. E é errado jogar essa função nas outras pessoas. Ora porque não devem, mas acima de tudo, porque não querem você. E isso não quer dizer que porque seu objeto de amor não te quer, que você não deva se amar. E isso é construído todos os dias. Se levante e lute por você. Seja o amor da sua vida. Seja o protagonista da sua vida. Não escrevi tudo isso como um tipo de auto ajuda vindo de quem está perfeitamente equilibrado. Escrevi para mim. Repito todos os dias. E essa é fórmula pra me curar dos amores desperdiçados mundo afora.
quinta-feira, 26 de março de 2015
2015
Ônibus lotado. Endereço errado. Um mês e nada da correspondência chegar. Fala e raciocínio fora de sincronia. Calor. Esmola. Gastar dinheiro com livros nos dias de hoje. Calcular o tempo que eu desperdiço esperando ônibus e esperando ser atendida pela moça do banco. Ler mais 5 páginas. Ajeitar a bolsa pesada no ombro. Colocar e tirar os óculos. Correr pra atravessar a avenida. Pedir aos céus pra não perder o ônibus. Calcular quanto preciso juntar e em quanto tempo pra fazer trezentas coisas. Subir 3 lances de escadas pra beber água. Ir ao banheiro só pra sentar e descansar as pernas. Pensar pra escrever. Montar slide. Encontrar referencias em todos os lugares. Arrepiar ao ouvir uma musica pela primeira vez. Aprender. Entender a vibe de quem consegue dormir em ônibus/trem/metrô. Digitar tudo isso no celular. Cabeça cheia demais pra desligar. Crer no sonho. Sozinho. Observar. Entender os caminhos e enxergar toda uma vida através de uma imagem: mulher magra negra 7 da manhã lavando vidros de carro no sinal em troca de "o que você quiser dar". Preferência política. Que não influencia em nada. Pequenas epifanias. Livros sujos na caixa da mudança. Anotar telefones de classificados no jornal. E correr. Lavar o rosto. Lutar pra levantar. Vencer a tristeza. Ignorar o choro enxugando-o logo na primeira lágrima mesmo que o queixo trema de vontade. Nunca é uma boa hora. Invejar os tiozinhos nos bares falando alto, contando história, bafo de pinga antiga. Saudades de Porto Alegre sem nunca ter visto. Fixar na mente: é a vida
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Quantos anos de blog? E eu continuo querendo fugir. Quero me mudar de MIM !!!
Desde que parei de escrever, vivo transbordando.
Logo eu, que sempre preferi ficar sozinha com os meus pensamentos, observando e descobrindo detalhes que as outras pessoas ignoram enquanto conversam sobre aquela viagem, aquela brisa, ou aquela pinga. Porque as minhas histórias desse tipo são poucas. Dá pra contar nos dedos. Cansou fácil. Conforme você cresce, fica mais difícil lidar com as consequências do que o corpo faz quando fica embriagado. Pelo menos com o meu, foi assim.
Pra onde foram os humanos? Onde estão os humanos parecidos comigo, pra eu me juntar? Ficou tão escasso o contato. Mesmo desempregada, mesmo os poucos amigos, também desempregados, fica cada dia mais complicado o simples evento de juntar uns amigos e ficar tagarelando.
Mesmo com esse mundo enorme me envolvendo, ainda me sinto sozinha.
Ando num estado, que olha... Seja qual for o assunto, não demora, eu começo a chorar.
A crise financeira, que hoje em dia não atinge mais apenas os bancários ou gente de muita grana, atinge até o meu cachorro, que tem que comer a ração mais barata. Me dá vontade de chorar. Meu cachorro é tão legal, ele merecia petiscos, brinquedos novos. Mas tá foda. Até pra ele.
O preconceito, o ódio espalhado entre a gente, pelo mundo inteiro. Puta, esse me dá vontade de chorar baldes. Nem preciso justificar.
A pessoa que eu amo vai embora, por esses motivos. Por dinheiro, preconceito e ódio. Só eu sei o quanto eu já chorei por esse tópico. E só Deus sabe quanto eu ainda vou chorar.
Ai eu penso em fazer coisas pra ajudar as pessoas e serem melhores e assim ajudar o mundo. E aí entra a parte complicada pra mim, e tudo volta pro começo. Não sei lidar com pessoas. Não sei falar de um jeito que elas entendam. Tenho a sensação de que eu falo, falo, falo, e é como se eu estivesse muda. Ninguém ouve. Ninguém absorve NADA. Nem pro mal, nem pro bem.
Não consigo me decidir, não sei o que escolher pra vida. Não sei como fazer o cara da entrevista de emprego gostar de mim. Não sei onde por as mãos nem como sorrir bonito pra pessoa me achar simpática e não "tímida demais para o tipo de trabalho da minha empresa". Cara, isso dá MUITA vontade de chorar.
Como eu disse, o contato humano, principalmente com um humano que se importe com o que você sente, e não com a quantia que traz no bolso, está muito escasso. Então quando eu encontro alguém apto, como um zumbi, toda seca, com as pernas doendo de tristeza, eu ESPANTO a pobre criatura. Porque eu só quero chorar, depois conversar muito e achar uma solução pra qualquer coisa. Pro meu problema ou pros dela. Qualquer um é lucro.
Gente eu choro tanto que eu já tive que operar o olho direito, porque uma glândula lacrimal entupiu.
É o cúmulo da pseudo-solidão. Um mundo de exageros, de multidões, e nada.
"Praia cheia, em mim tudo vazio."
Preciso mudar o mundo. Antes que meus olhos se mudem de mim, cansados das inundações.
Logo eu, que sempre preferi ficar sozinha com os meus pensamentos, observando e descobrindo detalhes que as outras pessoas ignoram enquanto conversam sobre aquela viagem, aquela brisa, ou aquela pinga. Porque as minhas histórias desse tipo são poucas. Dá pra contar nos dedos. Cansou fácil. Conforme você cresce, fica mais difícil lidar com as consequências do que o corpo faz quando fica embriagado. Pelo menos com o meu, foi assim.
Pra onde foram os humanos? Onde estão os humanos parecidos comigo, pra eu me juntar? Ficou tão escasso o contato. Mesmo desempregada, mesmo os poucos amigos, também desempregados, fica cada dia mais complicado o simples evento de juntar uns amigos e ficar tagarelando.
Mesmo com esse mundo enorme me envolvendo, ainda me sinto sozinha.
Ando num estado, que olha... Seja qual for o assunto, não demora, eu começo a chorar.
A crise financeira, que hoje em dia não atinge mais apenas os bancários ou gente de muita grana, atinge até o meu cachorro, que tem que comer a ração mais barata. Me dá vontade de chorar. Meu cachorro é tão legal, ele merecia petiscos, brinquedos novos. Mas tá foda. Até pra ele.
O preconceito, o ódio espalhado entre a gente, pelo mundo inteiro. Puta, esse me dá vontade de chorar baldes. Nem preciso justificar.
A pessoa que eu amo vai embora, por esses motivos. Por dinheiro, preconceito e ódio. Só eu sei o quanto eu já chorei por esse tópico. E só Deus sabe quanto eu ainda vou chorar.
Ai eu penso em fazer coisas pra ajudar as pessoas e serem melhores e assim ajudar o mundo. E aí entra a parte complicada pra mim, e tudo volta pro começo. Não sei lidar com pessoas. Não sei falar de um jeito que elas entendam. Tenho a sensação de que eu falo, falo, falo, e é como se eu estivesse muda. Ninguém ouve. Ninguém absorve NADA. Nem pro mal, nem pro bem.
Não consigo me decidir, não sei o que escolher pra vida. Não sei como fazer o cara da entrevista de emprego gostar de mim. Não sei onde por as mãos nem como sorrir bonito pra pessoa me achar simpática e não "tímida demais para o tipo de trabalho da minha empresa". Cara, isso dá MUITA vontade de chorar.
Como eu disse, o contato humano, principalmente com um humano que se importe com o que você sente, e não com a quantia que traz no bolso, está muito escasso. Então quando eu encontro alguém apto, como um zumbi, toda seca, com as pernas doendo de tristeza, eu ESPANTO a pobre criatura. Porque eu só quero chorar, depois conversar muito e achar uma solução pra qualquer coisa. Pro meu problema ou pros dela. Qualquer um é lucro.
Gente eu choro tanto que eu já tive que operar o olho direito, porque uma glândula lacrimal entupiu.
É o cúmulo da pseudo-solidão. Um mundo de exageros, de multidões, e nada.
"Praia cheia, em mim tudo vazio."
Preciso mudar o mundo. Antes que meus olhos se mudem de mim, cansados das inundações.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
All I wanna say is that They don't really care about us .
Eles não se importam.
Não importa o que você veste, nem os sapatos que usa.
Não importa se você vende drogas ou não, se usa drogas ou não, se já fez um assalto ou não. Se tem mãe ou não.
Nada importa, exceto o fato de estar aqui. Pior ainda, se você morar aqui.
Pode estar apenas caminhando com o cachorro na coleira, sentindo o frescor da noite. Eles não vão se importar.
Só importa o fato de você não ter outro lugar para estar quando eles chegam.
Aqui, eles nos olham como se fossemos ratos.
Enquanto eles, trabalham para a compania de saneamento. Água e esgoto.
E o seu dever é manter o esgoto limpo. Sem ratos. Portanto, somos o estorvo.
Se não existissem ratos, eles poderiam comer suas rosquinhas e fazer cara de mau por aí, nos postos de gasolina, caminhando, fazendo suas botas de couro rangirem, ordenando que o som dos carros seja abaixado. Tudo na área limpa da cidade. Na nata. Na superfície.
Somos a Deep Web da vida real.
Se nós, os ratos, não existíssemos, eles não precisariam vir até o esgoto, assistir a degradação em massa, que jamais atingirá os seus lares. Seus belos filhos, jamais entupirão os narizes com a carga vinda da Bolívia, que os ratos revendem.
No entanto, não deve ter graça ser filho de um amante de rosquinhas; andar dentro das melhores roupas, ter a garantia de uma faculdade paga, sem preocupações.
Assim, no meio da madrugada, geralmente aos fins de semana, entre as bebidas mais caras e as moças mais bem-cuidadas, eles vem até o Esgoto.
Sim. Eles vem.
Alguns arranjam um coleguinha 20% rato, sabe? Descendente, quem sabe; para descer e fazer o pedido no Drive-Tru da máquina que tudo move. Enquanto que outros alimentam a historinha, e descem pessoalmente, pisando com seus solados limpos no meio do lixo.
E pedem. Conseguem imaginar essa cena nas suas mentes? É insano.
Eles caminham direto do útero de suas mães, que estudaram etiqueta e sabem usar todos os talheres no restaurante mais caro de qualquer cidade, para o esgoto. E PEDEM. Suplicariam, se fosse preciso.
Mas não é preciso. Porque as notas que pulam das suas carteiras para a mão do rato da vez, é que fazem a engrenagem funcionar.
O esgoto fica cada vez mais escuro, e os caras com as botas que rangem, não querem mais colocar suas bundas em risco. Não querem confrontar um rato. Geralmente, um ou dois. Que só não movem mais grana no país do que os impostos.
Então esses ratos, com coroas em suas cabeças, dão aos tementes pela própria bunda, uma fatia do queijo mofado.
O queijo que promove a miséria. A destruição de famílias, que nunca desejaram estar aqui. Que financia armas, que adiciona +1 na Cracolândia todos os dias.
E com essa fatia, eles não precisam entrar no esgoto. Trocam seus automóveis por modelos do ano e não correm o risco de encontrar seus pequenos princípes, futuros jogadores de futebol, orgulhos da mamãe, trocando todo esse lindo sacrifício por duas bucha de cinco.
Não importa o que você veste, nem os sapatos que usa.
Não importa se você vende drogas ou não, se usa drogas ou não, se já fez um assalto ou não. Se tem mãe ou não.
Nada importa, exceto o fato de estar aqui. Pior ainda, se você morar aqui.
Pode estar apenas caminhando com o cachorro na coleira, sentindo o frescor da noite. Eles não vão se importar.
Só importa o fato de você não ter outro lugar para estar quando eles chegam.
Aqui, eles nos olham como se fossemos ratos.
Enquanto eles, trabalham para a compania de saneamento. Água e esgoto.
E o seu dever é manter o esgoto limpo. Sem ratos. Portanto, somos o estorvo.
Se não existissem ratos, eles poderiam comer suas rosquinhas e fazer cara de mau por aí, nos postos de gasolina, caminhando, fazendo suas botas de couro rangirem, ordenando que o som dos carros seja abaixado. Tudo na área limpa da cidade. Na nata. Na superfície.
Somos a Deep Web da vida real.
Se nós, os ratos, não existíssemos, eles não precisariam vir até o esgoto, assistir a degradação em massa, que jamais atingirá os seus lares. Seus belos filhos, jamais entupirão os narizes com a carga vinda da Bolívia, que os ratos revendem.
No entanto, não deve ter graça ser filho de um amante de rosquinhas; andar dentro das melhores roupas, ter a garantia de uma faculdade paga, sem preocupações.
Assim, no meio da madrugada, geralmente aos fins de semana, entre as bebidas mais caras e as moças mais bem-cuidadas, eles vem até o Esgoto.
Sim. Eles vem.
Alguns arranjam um coleguinha 20% rato, sabe? Descendente, quem sabe; para descer e fazer o pedido no Drive-Tru da máquina que tudo move. Enquanto que outros alimentam a historinha, e descem pessoalmente, pisando com seus solados limpos no meio do lixo.
E pedem. Conseguem imaginar essa cena nas suas mentes? É insano.
Eles caminham direto do útero de suas mães, que estudaram etiqueta e sabem usar todos os talheres no restaurante mais caro de qualquer cidade, para o esgoto. E PEDEM. Suplicariam, se fosse preciso.
Mas não é preciso. Porque as notas que pulam das suas carteiras para a mão do rato da vez, é que fazem a engrenagem funcionar.
O esgoto fica cada vez mais escuro, e os caras com as botas que rangem, não querem mais colocar suas bundas em risco. Não querem confrontar um rato. Geralmente, um ou dois. Que só não movem mais grana no país do que os impostos.
Então esses ratos, com coroas em suas cabeças, dão aos tementes pela própria bunda, uma fatia do queijo mofado.
O queijo que promove a miséria. A destruição de famílias, que nunca desejaram estar aqui. Que financia armas, que adiciona +1 na Cracolândia todos os dias.
E com essa fatia, eles não precisam entrar no esgoto. Trocam seus automóveis por modelos do ano e não correm o risco de encontrar seus pequenos princípes, futuros jogadores de futebol, orgulhos da mamãe, trocando todo esse lindo sacrifício por duas bucha de cinco.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Tudo vai bem. Bem pelo avesso.
Olho pra rua depois de vários dias sem sair de casa.
Penso em todas as coisas, os problemas, as brigas, possíveis soluções...
Passa das sete, horário de verão, acaba de escurecer. Caminho com as mãos nos bolsos olhando as vitrines e fachadas de clínicas, imaginando os donos dos nomes esquisitos de médicos.
Um cara aponta na esquina. Tenho quase certeza que vai me parar.
Dinheiro. Claro. "Me dê qualquer quantia, pra comer alguma coisa." As frases são parecidas. As possibilidades : inúmeras.
O cara podia realmente comer. Ou comprar um baseado, uma pedra, ou uma pinga de bar, ou juntar grana pra voltar pra Bahia.
Sim, um cara já me disse isso uma vez. As vezes eles me convencem da veracidade das histórias. Porque o dinheiro mesmo, conseguem sem esforços. Não sei dizer não. Isso acontece muito.
Continuo andando, chutando pedras, desviando das obras das calçadas, das pessoas folgadas que acham que você é quem tem que desviar delas... De repente reparo nas lojas que estão diferentes e etc, etc , etc.
Quando levo um susto no cérebro.
Me deparo com a praça central da cidade. Toda enfeitada com luzes de natal, cor de gelo. Sem as tradicionais luzinhas coloridas.
Acho que nunca vi essa praça tão linda. A banda municipal começa se apresentar um pouco longe de mim.
Me sento para esperar. O que é terrível.
Nada me aterroriza mais do que esperar perto de outras pessoas.
Parece que todas elas passam e olham, e enxergam através de mim. Como se vissem todos os meus medos, e soubessem que eu não tenho um isqueiro pra acender o cigarro e fingir que tá tudo legal. Não que eu fume pra isso. Mas quase sempre o cigarro serve pra você não ter que ficar com as mãos vazias segurando essa coisa estranha que as mãos não conseguem segurar. Tá confuso demais? Desculpe.
Enfim.
Coisas bonitas demais me entristecem. Não sei você, mas eu começo a questionar o porque das coisas não poderem ser só lindas.
Por trás das luzes de natal, as lojas começam a ficar abertas até as 22 horas, pra que as pessoas tenham mais tempo de comprar presentes. Que vão encher um quarto, brilhar uns olhos, depois estragar e virar só um monte de lixo.
E ainda por trás da decoração natalina, há também os funcionários. Pessoas normais, felizes, que gostam de contato humano. Ou pessoas fodidas como eu, e talvez como você. Que precisam de um emprego de merda em qualquer merda de comércio, pra pagar as contas e ir comprando coisas que a gente quer e que depois também vai pro monte de lixo de algumas linhas acima. O que talvez possa ser a conexão entre todos os seres. Sempre procurando por alguma coisa em outras coisas.
Pagar as contas, comprar porcarias e talvez juntar algum dinheiro e ir embora.
Ou simplesmente gastar o pouco que se tem, comprando cigarros. Pra tentar esconder aquele vazio das mãos. A coisa desconhecida que as mãos não seguram... Lembra?
Olho pra rua depois de vários dias sem sair de casa.
Penso em todas as coisas, os problemas, as brigas, possíveis soluções...
Passa das sete, horário de verão, acaba de escurecer. Caminho com as mãos nos bolsos olhando as vitrines e fachadas de clínicas, imaginando os donos dos nomes esquisitos de médicos.
Um cara aponta na esquina. Tenho quase certeza que vai me parar.
Dinheiro. Claro. "Me dê qualquer quantia, pra comer alguma coisa." As frases são parecidas. As possibilidades : inúmeras.
O cara podia realmente comer. Ou comprar um baseado, uma pedra, ou uma pinga de bar, ou juntar grana pra voltar pra Bahia.
Sim, um cara já me disse isso uma vez. As vezes eles me convencem da veracidade das histórias. Porque o dinheiro mesmo, conseguem sem esforços. Não sei dizer não. Isso acontece muito.
Continuo andando, chutando pedras, desviando das obras das calçadas, das pessoas folgadas que acham que você é quem tem que desviar delas... De repente reparo nas lojas que estão diferentes e etc, etc , etc.
Quando levo um susto no cérebro.
Me deparo com a praça central da cidade. Toda enfeitada com luzes de natal, cor de gelo. Sem as tradicionais luzinhas coloridas.
Acho que nunca vi essa praça tão linda. A banda municipal começa se apresentar um pouco longe de mim.
Me sento para esperar. O que é terrível.
Nada me aterroriza mais do que esperar perto de outras pessoas.
Parece que todas elas passam e olham, e enxergam através de mim. Como se vissem todos os meus medos, e soubessem que eu não tenho um isqueiro pra acender o cigarro e fingir que tá tudo legal. Não que eu fume pra isso. Mas quase sempre o cigarro serve pra você não ter que ficar com as mãos vazias segurando essa coisa estranha que as mãos não conseguem segurar. Tá confuso demais? Desculpe.
Enfim.
Coisas bonitas demais me entristecem. Não sei você, mas eu começo a questionar o porque das coisas não poderem ser só lindas.
Por trás das luzes de natal, as lojas começam a ficar abertas até as 22 horas, pra que as pessoas tenham mais tempo de comprar presentes. Que vão encher um quarto, brilhar uns olhos, depois estragar e virar só um monte de lixo.
E ainda por trás da decoração natalina, há também os funcionários. Pessoas normais, felizes, que gostam de contato humano. Ou pessoas fodidas como eu, e talvez como você. Que precisam de um emprego de merda em qualquer merda de comércio, pra pagar as contas e ir comprando coisas que a gente quer e que depois também vai pro monte de lixo de algumas linhas acima. O que talvez possa ser a conexão entre todos os seres. Sempre procurando por alguma coisa em outras coisas.
Pagar as contas, comprar porcarias e talvez juntar algum dinheiro e ir embora.
Ou simplesmente gastar o pouco que se tem, comprando cigarros. Pra tentar esconder aquele vazio das mãos. A coisa desconhecida que as mãos não seguram... Lembra?
domingo, 10 de março de 2013
1852
Essas músicas que vocês cantam, essas músicas que vocês dançam e dizem sentir todo um universo nos ouvidos.
Eu não tenho isso. Ouço, mas não sinto.
Olho meus dedos atráves do sol, depois olho em volta, e eu não faço parte dos carros passando, nem das pessoas conversando, nem da fofoca das vizinhas, nem dos causos nos bares, nem dos sorrisos entre as bebidas, nem das transas promíscuas. De nada.
No meu mundo, somente as letras dançam, embaralhadas na minha cabeça, e balançando na minha visão turva enquanto eu tento transcrever o que.. o que pede pra eu rasgar minha pele e fugir daqui, porque aqui não é meu lugar.
Eu vivo todos esses dias, tentando mascarar que aqui dentro está vazio.
Eu limpo a casa, lavo as roupas, vou pro trabalho, luto pra falar ao telefone, pra ter como sobreviver, preparo o almoço, o jantar, a ração pro cachorro. E quando eu me distraio com minha própria imagem no espelho, eu não sou nada.
Eu procuro em livros, eu procuro nas histórias das vidas de outras pessoas, nos filmes, nas calçadas, nas guimbas de cigarros na sarjeta entupindo os bueiros, nas digitais dos meus dedos, mas eu
não encontro.
Então eu pago as contas, vou ao banco, frequento um curso, compro mais livros, compro mais cigarros, rejeito as bebidas, rejeito as drogas, rejeito o sexo que as pessoas oferecem gratuitamente, porque eu não sinto nada, eu só puxo a fumaça
e solto a fumaça. E esse oceano nos meus olhos, infinito, disfarçando pra você que me vê na rua, o meu desespero e angústia, esse oceano, me afoga antes de pegar no sono, com a cabeça explodindo e a pele ardente de arranhar, já que eu não posso cortar. Eu não posso surtar, eu não posso perder o emprego, eu não posso largar meu curso, eu não posso me drogar, não posso perder a hora, não posso parar. Não posso parar. Não posso parar. Não posso parar. Não posso parar.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Passos pesados ecoam sobre a poeira. Os pequenos bichos correm para se esconder.
É como entrar numa casa abandonada, tomada pela natureza, pelo lodo, pelo escuro.
Ler tudo que ficou intacto aqui, sobras de todos aqueles anos, me faz sentir assim.
É pesado. Escuro, acelerado. Sempre parecendo que eu não sobreviveria.
Lembra quantas vezes eu falei em fugir? Nunca o fiz...
Para você, que pode estar aqui pela primeira vez, não importa, mas se você é um peregrino dos bons pelas histórias de vidas alheias perdidas nessa enorme rede.. talvez importe.
Eu fiquei, estou na mesma cidade, no mesmo apartamento, usando as mesmas roupas, com o mesmo nome.
Lutei contra o que me habita, talvez seja vago dizer que o domino, mas posso afirmar que não me domina mais.
Cada noite, cada caminhada pelas noites escuras nesse bairro que nem deve existir no mapa, cada cigarro que ardeu a garganta e cada gole traiçoeiro, me recordo de tudo. Bem aqui. Neste mesmo lugar, neste pequeno corpo.. e quem olha nem desconfia.
Ou desconfia, já que o que sobrou disso tudo é o que eu não posso mudar: meu semblante.
Tudo isso se guarda na íris, é o que escurece-me o olhar, me molda, me identifica na multidão.
Marcada pelo que atravessei, agora caminho, sem colisões aparentes, sem arranhões, alheia.
Mais um ser humano de alma pesada e olhos escuros.
Mais um ser humano de alma pesada e olhos escuros.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
É muito difícil continuar escrevendo nos dias de hoje, tanto pela falta de fé das pessoas nos escritores quando pelo meu medo de estar submersa pela escuridão desse pântano de sangue outra vez.
Não consigo mais escrever. Não consigo escrever sem me arrancar pedaços, sem ficar espalhada pelos cantos, sem estar em frangalhos, migalhas. Me desmontar... nem que seja pra remontar tudo depois.
Nunca imaginei que seria assim. A vida eu até tinha uma noção de que, de um jeito ou de outro, seguiria. Aos trancos; mas isso? Assim? Sem poder dizer nada? Sem poder cuspir quando sinto gosto ruim, sem poder vomitar quando o conteúdo ingerido não se adapta ao meu organismo? Que estranho.
Não me sinto.
Escrevo, preencho a linha inteira, e deixo só metade. Ou nem isso. Como na linha acima, tinha mais história ali, apertei várias vezes a tecla de apagar. Só "não me sinto" deve bastar.
Quando era o começo, quando eu tinha muito menos experiência pra me sustentar, sobreviver, o desespero me fazia explodir. Eu não sabia o que fazer, aquele drama, pessoas te apontando como adolescente em crise...
Mas aí você cresce.
E o mundo te cala.
A vida te censura.
Então eu tenho de aprisionar todo esse ácido no estômago, essas coisas que desde aquele tempo, eu não consigo explicar, eu não tenho respostas, eu não encontro ninguém que saiba, que entenda do que eu estou falando. Que sinta o que eu estou transcrevendo aqui.
E eu já não sei se era pior ser adolescente explosiva, porem expressando-me, ou ser uma quase-adulta calada, quieta, de olhar frio, fazendo trabalhos manuais, em jejum, sem aquele cafézinho pra socializar, sem o cigarro pra aliviar, só esse buraco. Esse vazio. Esse grito.Surdo.Mudo. Sem eco.
E isso me faz um mal amargo... me cala... porque.. eu continuo enxergando como sempre enxerguei. As coisas que ninguém diz, o que ninguém te explica, isso MORA na minha cabeça. Sempre morou.
E é como se isso não tivesse valor. Fosse nada. E então eu retorno a linha de pensamento lá de... 2009, 2010, de que sou é completamente louca.
Será que eu me tornei a pedra? Sim, a pedra a qual Caio Fernando se refere no conto Diálogo, em Limite Branco, se não me engano...
Não tenho mais conclusões nem teses. Não sei se isso é me conformar, ou se me cansei. Ou se cresci demais.
Entretanto, sigo. Habitante de lares sem muros.
Perdoem o mal jeito com as palavras. Perdoem mesmo. Sinto saudade dos tempos brilhantes...
Não consigo mais escrever. Não consigo escrever sem me arrancar pedaços, sem ficar espalhada pelos cantos, sem estar em frangalhos, migalhas. Me desmontar... nem que seja pra remontar tudo depois.
Nunca imaginei que seria assim. A vida eu até tinha uma noção de que, de um jeito ou de outro, seguiria. Aos trancos; mas isso? Assim? Sem poder dizer nada? Sem poder cuspir quando sinto gosto ruim, sem poder vomitar quando o conteúdo ingerido não se adapta ao meu organismo? Que estranho.
Não me sinto.
Escrevo, preencho a linha inteira, e deixo só metade. Ou nem isso. Como na linha acima, tinha mais história ali, apertei várias vezes a tecla de apagar. Só "não me sinto" deve bastar.
Quando era o começo, quando eu tinha muito menos experiência pra me sustentar, sobreviver, o desespero me fazia explodir. Eu não sabia o que fazer, aquele drama, pessoas te apontando como adolescente em crise...
Mas aí você cresce.
E o mundo te cala.
A vida te censura.
Então eu tenho de aprisionar todo esse ácido no estômago, essas coisas que desde aquele tempo, eu não consigo explicar, eu não tenho respostas, eu não encontro ninguém que saiba, que entenda do que eu estou falando. Que sinta o que eu estou transcrevendo aqui.
E eu já não sei se era pior ser adolescente explosiva, porem expressando-me, ou ser uma quase-adulta calada, quieta, de olhar frio, fazendo trabalhos manuais, em jejum, sem aquele cafézinho pra socializar, sem o cigarro pra aliviar, só esse buraco. Esse vazio. Esse grito.Surdo.Mudo. Sem eco.
E isso me faz um mal amargo... me cala... porque.. eu continuo enxergando como sempre enxerguei. As coisas que ninguém diz, o que ninguém te explica, isso MORA na minha cabeça. Sempre morou.
E é como se isso não tivesse valor. Fosse nada. E então eu retorno a linha de pensamento lá de... 2009, 2010, de que sou é completamente louca.
Será que eu me tornei a pedra? Sim, a pedra a qual Caio Fernando se refere no conto Diálogo, em Limite Branco, se não me engano...
Não tenho mais conclusões nem teses. Não sei se isso é me conformar, ou se me cansei. Ou se cresci demais.
Entretanto, sigo. Habitante de lares sem muros.
Perdoem o mal jeito com as palavras. Perdoem mesmo. Sinto saudade dos tempos brilhantes...
sábado, 21 de julho de 2012
domingo, 6 de maio de 2012
Novamente aqui, perante ao dilema de não mais saber lidar tão bem com as teclas e letras e acentos e pontos.
De novo o gosto amargo de ferrugem, de sangue, na boca.
De novo o gosto azedo do meu sulco gástrico de toda a vida, escalando as paredes da minha garganta com uma destreza tremenda. Entretanto meus dentes prendem-se bem, os de cima com os debaixo, e rangem, esfregam se. E começo a suar, e a tremer, meu pensamento fica confuso e acelerado. Não sei mais o que é certo pensar, não sei mais se quero tudo que queria ontem. Certamente não posso fugir agora, posso ?
Eu queria muito fugir. Quis muito fugir na noite passada, durante a madrugada gelada de começo de outono.
Queria abandonar essa casca, essa vida, esses planos que essa outra eu fez enquanto tentava calar meu eu mais forte que sempre quis fugir, não fazer planos e desapegar- se do pouco restante.
Não tenho certeza, não sei se dói. Mas sufoca outra vez. Dedos grandes e grossos me enforcam, ruas desconhecidas e vozes graves me chamam muito longe daqui.
O que sinto é medo, é sufoco, é esse peito louco, preso, sacudindo as grades da jaula, querendo sempre outra coisa, SEMPRE outra coisa. Que nunca sabe o quê.
O outro eu não tinha desatado esse nó ? Eu não era uma nova pessoa? Alguém melhor ? Alguém bom ? Positivo?
Há muito tempo minhas mãos não tremiam durante o sono, agora perturbado.
Há muito tempo eu não desejava outra coisa sem nome, sem rosto, sem endereço.
Tenho muito medo. Não sei direito do quê. Mas talvez seja medo de me aprisionar a um enredo perfeitinho. Do jeito que os pais sonham. E tenho certeza que não sou pra isso. Não sirvo, não me cabe.
Minhas mãos gelam. Meu estômago faz igual.
Me atormenta esse olhar desesperado, querendo olhar pra todos os lados ao mesmo tempo. Outra vez.
Tenho espasmos nos nervos. E medo de que meu filme dramático recomece.
Por que me sinto louco, preso, quando devia, e até ontem, estava, feliz pela tranquilidade de um colo quente, e meu ? Não era isso, afinal, o que eu sempre procurei ?
Que minha alma louca, fugitiva, aventureira e sem lar, não me mate. Não me tire o pouco que conquistei.
Que luzes me guiem de volta, ou de verdade, para o que é certo, para o que me fará bem.
Eu me desesperaria agora se estendesse a mão no escuro e não alcançasse nada também vivo para tocar?
O despertador toca. Tenho quase trinta anos e ainda estou presa. Ainda sacudindo as grades.
Eu me assusto, eu me amedronto, o que eu quero, eu desconheço, isso me assusta.
Protejam-me do que eu quero !
De novo o gosto amargo de ferrugem, de sangue, na boca.
De novo o gosto azedo do meu sulco gástrico de toda a vida, escalando as paredes da minha garganta com uma destreza tremenda. Entretanto meus dentes prendem-se bem, os de cima com os debaixo, e rangem, esfregam se. E começo a suar, e a tremer, meu pensamento fica confuso e acelerado. Não sei mais o que é certo pensar, não sei mais se quero tudo que queria ontem. Certamente não posso fugir agora, posso ?
Eu queria muito fugir. Quis muito fugir na noite passada, durante a madrugada gelada de começo de outono.
Queria abandonar essa casca, essa vida, esses planos que essa outra eu fez enquanto tentava calar meu eu mais forte que sempre quis fugir, não fazer planos e desapegar- se do pouco restante.
Não tenho certeza, não sei se dói. Mas sufoca outra vez. Dedos grandes e grossos me enforcam, ruas desconhecidas e vozes graves me chamam muito longe daqui.
O que sinto é medo, é sufoco, é esse peito louco, preso, sacudindo as grades da jaula, querendo sempre outra coisa, SEMPRE outra coisa. Que nunca sabe o quê.
O outro eu não tinha desatado esse nó ? Eu não era uma nova pessoa? Alguém melhor ? Alguém bom ? Positivo?
Há muito tempo minhas mãos não tremiam durante o sono, agora perturbado.
Há muito tempo eu não desejava outra coisa sem nome, sem rosto, sem endereço.
Tenho muito medo. Não sei direito do quê. Mas talvez seja medo de me aprisionar a um enredo perfeitinho. Do jeito que os pais sonham. E tenho certeza que não sou pra isso. Não sirvo, não me cabe.
Minhas mãos gelam. Meu estômago faz igual.
Me atormenta esse olhar desesperado, querendo olhar pra todos os lados ao mesmo tempo. Outra vez.
Tenho espasmos nos nervos. E medo de que meu filme dramático recomece.
Por que me sinto louco, preso, quando devia, e até ontem, estava, feliz pela tranquilidade de um colo quente, e meu ? Não era isso, afinal, o que eu sempre procurei ?
Que minha alma louca, fugitiva, aventureira e sem lar, não me mate. Não me tire o pouco que conquistei.
Que luzes me guiem de volta, ou de verdade, para o que é certo, para o que me fará bem.
Eu me desesperaria agora se estendesse a mão no escuro e não alcançasse nada também vivo para tocar?
O despertador toca. Tenho quase trinta anos e ainda estou presa. Ainda sacudindo as grades.
Eu me assusto, eu me amedronto, o que eu quero, eu desconheço, isso me assusta.
Protejam-me do que eu quero !
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Uma carta. Que precisa esperar um pequeno ser humano crescer e ser alfabetizado pra poder ser lida.
Querida Ariel.
Não me lembro o dia exato em que soube que sua mãe havia chegado na cidade.
Mas consigo me lembrar detalhadamente do dia em que começamos a tecer esse laço dourado que tem nos unido.
Era dia 20 de agosto de 2008. Havia uma festa muito grande naquela cidade, e durante essa festa, uma feira de bijuterias e roupas ficava montada na praça central. Sua mãe tinha o cabelo curto, desfiado, cor de rosa. Usava uma camisa de mangas compridas listrada de preto e branco.
Estávamos em um grupo enorme. Éramos todos amigos, nos divertíamos muito e nem fazíamos idéia de onde nossa vida podia nos levar.
Naquele dia eu me lembro de ter sorrido bastante, me lembro de correr muito da sua mãe porque estava com nojo, ela queria me beijar, [risos] Mas era só brincadeira. Corri tanto que deitei no chão, daí ela veio, com uma outra amiga também e me beijou e me fez cócegas, pulou em mim.. Foi um momento muito inocente e espontâneo.
Muita coisa aconteceu depois daquele dia. Aquele extenso grupo de amigos, infelizmente, se desfez, tínhamos caminhos diferentes que iam contra nossos planos de viajar para a praia ou de envelhecer todos juntos.
Sua mãe morou lá por cerca de 6 meses, depois não aguentou o marasmo do interior, e voltou para São Paulo.
Lembro dela ter falado sobre o seu pai em uma das vezes em que ela foi me visitar. Contou que tinha visto ele num show, bem rápido, e que estavam se falando por internet.
Como a vida dela era muito agitada, só conseguia saber de tudo direito quando ela me visitava.
E umas duas visitas depois, quando fui falar com ela pela internet, soube que ela estava em Brasília, namorando e morando com o seu pai.
Daí em diante, muito mais coisa aconteceu, mas daí são coisas, aventuras, noites, porres que sua mãe talvez lhe conte um dia, com os olhos brilhando de saudade daquele tempo..
Ela precisava voltar para São Paulo, para seu emprego, e sua casa. Seu pai foi junto. Mas ele já tinha outros filhos em Brasília, e 3 meses depois, precisou retornar. Entenda que seu pai e sua mãe são pessoas lindas, livres, inteligentes, e por isso, invejadas. As pessoas eram maldosas, queriam separá-los, e depois de muitas brigas por intrigas inventadas ou até mesmo o ciúme da sua mãe, eles terminaram.
Em maio de 2011 seu pai voltou para Brasília, dia 17 se não me engano.
Aproximadamente em 16 de setembro, sua mãe foi me visitar de novo, e tínhamos um campeonato de skate em Lorena pra ir.
Mais uma vez eu sentia meu amor por ela aumentando. Compramos comida, passamos frio juntas, acordamos cedo, tomamos sol e conversamos com os atletas de outras cidades, fizemos amizades, foi muito divertido. Mas notei que ela estava dormindo MUITO.
Quando voltamos de viagem, então ela me contou que estava grávida, mas não sabia de quanto tempo, cerca de 3 meses mais ou menos. A barriga nem aparecia muito. Fiquei chocada. Sua mãe sempre foi muito aventureira até demais, acho que me preocupei mais do que ela.
No começo, ela não sabia o que fazer, disse que quando você nascesse não ia saber cuidar, que não cuidava nem dela direito.
Eu e mais um monte de gente ficou morrendo de medo dela dar você pra outra pessoa criar, depois que nascesse.
Mas eu e todas essas pessoas pensamos com muito amor em vocês duas, sua mãe é alguém linda! Uma das pessoas mais lindas que eu já conheci. Tem uma energia poderosa, alegremente contagiante e cheia, cheeeia de amor. Então, nós tratamos de nos preocupar só com você, obrigando ela a ir no médico e tal. Tínhamos certeza de que quando você nascesse, no seu primeiro inspirar e exalar, ela te amaria como jamais amou outra pessoa.
Em novembro de 2011, pela primeira vez eu fui a São Paulo visitar sua mãe. Já dava pra notar a barriga, mas muita gente demorou muuuito pra perceber, e tiveram algumas, que se ela não contasse, não saberiam sozinhas.
Foram dias incríveis e muito importantes pra mim. Estar ao lado da sua mãe me fazia um bem que eu não encontro em nenhuma outra pessoa.
Assistimos a muitos shows, e mesmo com você dentro dela, ela dançou, cantou e pulou na multidão, suportando o seu peso e o dela.
Uma das cenas que me emocionou muito nesses dias, foi quando ela subiu no palco no meio de um show do Rancore, e ficou abraçada com o Teco, o vocalista, cantando e dançando no ritmo da música. A blusa dela era soltinha, e quando ela balançou, deu pra todo mundo ver que ela estava grávida.
Eu estava bem na beira do palco, e vi aquilo de um ângulo que me encheu os olhos d'água. Sua mãe é uma pessoa maravilhosa, Ariel. Me dá vontade de chorar.
Fique um mês quase morando com ela. Acordávamos cedo, conversávamos e dormíamos mais um pouco, depois tomávamos café e íamos pro estúdio onde ela trabalhava. Ela chorou muitas vezes, porque muitas pessoas iam lá pra vê-la e brigavam com ela por saber que não estava indo ao médico.
Lembro de uma senhora que chorou quando soube de você, porque ela, quando nova, tinha feito um aborto... Conheci muitas histórias que me fazem chorar, durante aquele mês.
Comíamos besteiras, muita pizza, muitos lanches e latas de brigadeiro pronto, porque dava menos trabalho.
E durante todas aquelas noites, sempre que eu dormia bem perto dela, sentia você chutando. Nunca fui muito sensível e também nunca entendi porque as pessoas ficavam tão derretidas por crianças, mas você Ariel, eu fiz parte da sua história, eu assisti a barriga da sua mãe crescer, e me culpei muito por não ter estado do lado dela no dia do nascimento. Me emociono aqui ao pensar na sua vida, no quanto a sua mãe é linda, você não podia ter uma mãe melhor, bebezinha. Sei que as vezes ela vai ficar confusa, ela vai chorar e sentir medo, além de sermos muito parecidas, a conheço bem. Mas te peço que entenda, que seja paciente. Até agora só te vi por 3 fotos, e a terceira me fez chorar, já consigo sentir o amor e o jeito dos seus pais na sua feição.
Eles se amaram muito ! Muito mesmo. Não sei se eles ainda vão se amar quando você puder ler isto, mas tenha certeza de que esse amor existiu, e foi tão forte que Deus precisou te criar pra que aquele amor, a força dele, nunca fosse esquecido.
Olha, sua mãe é uma pessoa muito amada, por isso repito tanto que ela é linda e tem muito amor. Não há quem não se apaixone por ela.
Parei de dizer que ela é minha irma, ou minha mulher como costumava. Ela é muito mais do que isso. Tenho pela sua mãe um sentimento que transcende , vai muito além do que a gente pode sentir e do que eu possa descrever.
Olha, pra você, o tempo vai parecer passar mais devagar, mas fique tranquila, é o tempo necessário. E pra nós, vai voar ! E logo seremos velhos te ensinando coisas e te contando histórias da nossa juventude maluca.
Queria muito poder te ver abrir os olhos, Ariel, ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras.. Talvez ainda dê tempo, talvez eu me mude praí no ano que vem. Caso não aconteça, segue anexo algumas instruções :
Observe tudo! Fotografe com seus olhinhos e guarde tudo na memória.
Aprenda a apreciar as coisas, não deixe de brincar com o brinquedo azul só porque te disseram que azul é de menino.
O mundo é lindo, tire suas próprias conclusões das coisas. Se alguém te disser que mamão é ruim, não concorde antes de provar, porque o paladar das pessoas é muito diferente, e talvez o seu paladar goste de mamão, mas se você se limitar ao que a outra pessoa disse, pode passar anos sem comer uma fruta que pode ser sua preferida, ou não. Experimente.
Ame muito. Ame a sua mãe, perdoe-a, console quando ela ficar triste, sorria pra ela.
Seja livre, viva do seu jeito.
Aaah, e saiba que você nasceu num momento espiritual muito bom. Muita música boa estava tocando enquanto você estava na barriga.
Você viu deve ter ouvido Forfun com a gente ! Também Rancore, Scracho e outros shows que sua mãe deve ter ido quando já tinha você.
Mesmo que ainda exista muita gente má, os amigos da sua mãe são todos de bom coração, tem tatuagens legais e alargadores grandes.
Está todo mundo ansioso pra te ver. Tenho vontade de te abraçar e te contar tudo logo, mas vai demorar pra você ler isso e entender, por isso vou guardar bem essa carta e se a força do cosmos te fizer encontrar essas palavras, Ariel, saiba que alguém ama muito você e sua mãe.
Abra logo os olhos !
Não me lembro o dia exato em que soube que sua mãe havia chegado na cidade.
Mas consigo me lembrar detalhadamente do dia em que começamos a tecer esse laço dourado que tem nos unido.
Era dia 20 de agosto de 2008. Havia uma festa muito grande naquela cidade, e durante essa festa, uma feira de bijuterias e roupas ficava montada na praça central. Sua mãe tinha o cabelo curto, desfiado, cor de rosa. Usava uma camisa de mangas compridas listrada de preto e branco.
Estávamos em um grupo enorme. Éramos todos amigos, nos divertíamos muito e nem fazíamos idéia de onde nossa vida podia nos levar.
Naquele dia eu me lembro de ter sorrido bastante, me lembro de correr muito da sua mãe porque estava com nojo, ela queria me beijar, [risos] Mas era só brincadeira. Corri tanto que deitei no chão, daí ela veio, com uma outra amiga também e me beijou e me fez cócegas, pulou em mim.. Foi um momento muito inocente e espontâneo.
Muita coisa aconteceu depois daquele dia. Aquele extenso grupo de amigos, infelizmente, se desfez, tínhamos caminhos diferentes que iam contra nossos planos de viajar para a praia ou de envelhecer todos juntos.
Sua mãe morou lá por cerca de 6 meses, depois não aguentou o marasmo do interior, e voltou para São Paulo.
Lembro dela ter falado sobre o seu pai em uma das vezes em que ela foi me visitar. Contou que tinha visto ele num show, bem rápido, e que estavam se falando por internet.
Como a vida dela era muito agitada, só conseguia saber de tudo direito quando ela me visitava.
E umas duas visitas depois, quando fui falar com ela pela internet, soube que ela estava em Brasília, namorando e morando com o seu pai.
Daí em diante, muito mais coisa aconteceu, mas daí são coisas, aventuras, noites, porres que sua mãe talvez lhe conte um dia, com os olhos brilhando de saudade daquele tempo..
Ela precisava voltar para São Paulo, para seu emprego, e sua casa. Seu pai foi junto. Mas ele já tinha outros filhos em Brasília, e 3 meses depois, precisou retornar. Entenda que seu pai e sua mãe são pessoas lindas, livres, inteligentes, e por isso, invejadas. As pessoas eram maldosas, queriam separá-los, e depois de muitas brigas por intrigas inventadas ou até mesmo o ciúme da sua mãe, eles terminaram.
Em maio de 2011 seu pai voltou para Brasília, dia 17 se não me engano.
Aproximadamente em 16 de setembro, sua mãe foi me visitar de novo, e tínhamos um campeonato de skate em Lorena pra ir.
Mais uma vez eu sentia meu amor por ela aumentando. Compramos comida, passamos frio juntas, acordamos cedo, tomamos sol e conversamos com os atletas de outras cidades, fizemos amizades, foi muito divertido. Mas notei que ela estava dormindo MUITO.
Quando voltamos de viagem, então ela me contou que estava grávida, mas não sabia de quanto tempo, cerca de 3 meses mais ou menos. A barriga nem aparecia muito. Fiquei chocada. Sua mãe sempre foi muito aventureira até demais, acho que me preocupei mais do que ela.
No começo, ela não sabia o que fazer, disse que quando você nascesse não ia saber cuidar, que não cuidava nem dela direito.
Eu e mais um monte de gente ficou morrendo de medo dela dar você pra outra pessoa criar, depois que nascesse.
Mas eu e todas essas pessoas pensamos com muito amor em vocês duas, sua mãe é alguém linda! Uma das pessoas mais lindas que eu já conheci. Tem uma energia poderosa, alegremente contagiante e cheia, cheeeia de amor. Então, nós tratamos de nos preocupar só com você, obrigando ela a ir no médico e tal. Tínhamos certeza de que quando você nascesse, no seu primeiro inspirar e exalar, ela te amaria como jamais amou outra pessoa.
Em novembro de 2011, pela primeira vez eu fui a São Paulo visitar sua mãe. Já dava pra notar a barriga, mas muita gente demorou muuuito pra perceber, e tiveram algumas, que se ela não contasse, não saberiam sozinhas.
Foram dias incríveis e muito importantes pra mim. Estar ao lado da sua mãe me fazia um bem que eu não encontro em nenhuma outra pessoa.
Assistimos a muitos shows, e mesmo com você dentro dela, ela dançou, cantou e pulou na multidão, suportando o seu peso e o dela.
Uma das cenas que me emocionou muito nesses dias, foi quando ela subiu no palco no meio de um show do Rancore, e ficou abraçada com o Teco, o vocalista, cantando e dançando no ritmo da música. A blusa dela era soltinha, e quando ela balançou, deu pra todo mundo ver que ela estava grávida.
Eu estava bem na beira do palco, e vi aquilo de um ângulo que me encheu os olhos d'água. Sua mãe é uma pessoa maravilhosa, Ariel. Me dá vontade de chorar.
Fique um mês quase morando com ela. Acordávamos cedo, conversávamos e dormíamos mais um pouco, depois tomávamos café e íamos pro estúdio onde ela trabalhava. Ela chorou muitas vezes, porque muitas pessoas iam lá pra vê-la e brigavam com ela por saber que não estava indo ao médico.
Lembro de uma senhora que chorou quando soube de você, porque ela, quando nova, tinha feito um aborto... Conheci muitas histórias que me fazem chorar, durante aquele mês.
Comíamos besteiras, muita pizza, muitos lanches e latas de brigadeiro pronto, porque dava menos trabalho.
E durante todas aquelas noites, sempre que eu dormia bem perto dela, sentia você chutando. Nunca fui muito sensível e também nunca entendi porque as pessoas ficavam tão derretidas por crianças, mas você Ariel, eu fiz parte da sua história, eu assisti a barriga da sua mãe crescer, e me culpei muito por não ter estado do lado dela no dia do nascimento. Me emociono aqui ao pensar na sua vida, no quanto a sua mãe é linda, você não podia ter uma mãe melhor, bebezinha. Sei que as vezes ela vai ficar confusa, ela vai chorar e sentir medo, além de sermos muito parecidas, a conheço bem. Mas te peço que entenda, que seja paciente. Até agora só te vi por 3 fotos, e a terceira me fez chorar, já consigo sentir o amor e o jeito dos seus pais na sua feição.
Eles se amaram muito ! Muito mesmo. Não sei se eles ainda vão se amar quando você puder ler isto, mas tenha certeza de que esse amor existiu, e foi tão forte que Deus precisou te criar pra que aquele amor, a força dele, nunca fosse esquecido.
Olha, sua mãe é uma pessoa muito amada, por isso repito tanto que ela é linda e tem muito amor. Não há quem não se apaixone por ela.
Parei de dizer que ela é minha irma, ou minha mulher como costumava. Ela é muito mais do que isso. Tenho pela sua mãe um sentimento que transcende , vai muito além do que a gente pode sentir e do que eu possa descrever.
Olha, pra você, o tempo vai parecer passar mais devagar, mas fique tranquila, é o tempo necessário. E pra nós, vai voar ! E logo seremos velhos te ensinando coisas e te contando histórias da nossa juventude maluca.
Queria muito poder te ver abrir os olhos, Ariel, ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras.. Talvez ainda dê tempo, talvez eu me mude praí no ano que vem. Caso não aconteça, segue anexo algumas instruções :
Observe tudo! Fotografe com seus olhinhos e guarde tudo na memória.
Aprenda a apreciar as coisas, não deixe de brincar com o brinquedo azul só porque te disseram que azul é de menino.
O mundo é lindo, tire suas próprias conclusões das coisas. Se alguém te disser que mamão é ruim, não concorde antes de provar, porque o paladar das pessoas é muito diferente, e talvez o seu paladar goste de mamão, mas se você se limitar ao que a outra pessoa disse, pode passar anos sem comer uma fruta que pode ser sua preferida, ou não. Experimente.
Ame muito. Ame a sua mãe, perdoe-a, console quando ela ficar triste, sorria pra ela.
Seja livre, viva do seu jeito.
Aaah, e saiba que você nasceu num momento espiritual muito bom. Muita música boa estava tocando enquanto você estava na barriga.
Você viu deve ter ouvido Forfun com a gente ! Também Rancore, Scracho e outros shows que sua mãe deve ter ido quando já tinha você.
Mesmo que ainda exista muita gente má, os amigos da sua mãe são todos de bom coração, tem tatuagens legais e alargadores grandes.
Está todo mundo ansioso pra te ver. Tenho vontade de te abraçar e te contar tudo logo, mas vai demorar pra você ler isso e entender, por isso vou guardar bem essa carta e se a força do cosmos te fizer encontrar essas palavras, Ariel, saiba que alguém ama muito você e sua mãe.
Abra logo os olhos !
terça-feira, 20 de março de 2012
Texto antigo encontrado nos rascunhos.
Sinto que te procurei. Tentei sentir seu cheiro nas bordas dos copos em que me afoguei.
Cacei teus olhos no caminho misterioso que o fio de fumaça dos meus cigarros faziam, rumo ao infinito escuro do céu noturno.
Procurei um abrigo teu em meio as minhas crises... solitárias e desesperadas. E penso que, em sonhos, num lugar muito inconsciente de ti, tenhas assistido me enquanto pintava os olhos com sorrisos poucos satisfeitos com o meu, com expectativas que eu não soube alcançar. E que agora, descubro lentamente, que não eram nem de longe, o que de perto eu pensava ver.
A princípio, interpretamos algum tipo de dança.. um ritual.. como animais que se olham.. se rodeiam.. se cheiram.. e silenciam.
Usei muito do faro até reconhecer te como não ameaça. Pra só então, avaliar te os olhos e checar teus antecedentes..quase criminais.
Já fui ingênua e doce um dia. Acreditei que, se eu tivesse amor, meu objeto de desejo, também teria.
Amei tanto, Tão errado. Tão torto, tão dolorido.
Que, sem perceber, uma hora eu parei de pedir. E sem saber, fazendo isso, estava pronta pra receber.
Atualmente, acredito tão pouco no amor, que chega a ser feio.
Acredito em encontros que por alguma razão, da qual minha sabedoria, limitada e humana, custa a entender, já estavam programados e são só uma continuação, um bônus de outras vidas. E que, mesmo que em nenhuma delas eu lembre da anterior, faz parte de um crescimento sem tamanho.
Acredito de outros modos também. Acredito em almas que se encontram numa colisão, num acaso.
Que acaba se tornando destino, quando você desenha tudo junto numa folha e vai ligando as coisas e percebe que tudo está conectado.
Assim, acreditar fica mais bonito. Assim, quando teus amores precisam ir embora, tu já não chora mais a perda. Porque a tal da perda não existe, é tudo lucro. É tudo adição. Multiplicação.
Subtrair não dá. Não faz sentido.
Cacei teus olhos no caminho misterioso que o fio de fumaça dos meus cigarros faziam, rumo ao infinito escuro do céu noturno.
Procurei um abrigo teu em meio as minhas crises... solitárias e desesperadas. E penso que, em sonhos, num lugar muito inconsciente de ti, tenhas assistido me enquanto pintava os olhos com sorrisos poucos satisfeitos com o meu, com expectativas que eu não soube alcançar. E que agora, descubro lentamente, que não eram nem de longe, o que de perto eu pensava ver.
A princípio, interpretamos algum tipo de dança.. um ritual.. como animais que se olham.. se rodeiam.. se cheiram.. e silenciam.
Usei muito do faro até reconhecer te como não ameaça. Pra só então, avaliar te os olhos e checar teus antecedentes..quase criminais.
Já fui ingênua e doce um dia. Acreditei que, se eu tivesse amor, meu objeto de desejo, também teria.
Amei tanto, Tão errado. Tão torto, tão dolorido.
Que, sem perceber, uma hora eu parei de pedir. E sem saber, fazendo isso, estava pronta pra receber.
Atualmente, acredito tão pouco no amor, que chega a ser feio.
Acredito em encontros que por alguma razão, da qual minha sabedoria, limitada e humana, custa a entender, já estavam programados e são só uma continuação, um bônus de outras vidas. E que, mesmo que em nenhuma delas eu lembre da anterior, faz parte de um crescimento sem tamanho.
Acredito de outros modos também. Acredito em almas que se encontram numa colisão, num acaso.
Que acaba se tornando destino, quando você desenha tudo junto numa folha e vai ligando as coisas e percebe que tudo está conectado.
Assim, acreditar fica mais bonito. Assim, quando teus amores precisam ir embora, tu já não chora mais a perda. Porque a tal da perda não existe, é tudo lucro. É tudo adição. Multiplicação.
Subtrair não dá. Não faz sentido.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Atirei me ao mar.
Conto as teclas. Conto os números, as letras, os símbolos, conto quantas combinações são possíveis.
Tem sido assim a minha busca por amontoados de palavras que expliquem ou expulsem de mim o que tenho vivido.
Não que tenha sido ruim. Mas precisa ser ejetado...
Meu corpo é um barco. Tem dias que ele acorda furado e entra muita água... o barco vira, seus tripulantes engolem muita água, os mapas se perdem, as lunetas, os tesouros, as sereias...
Vez ou outra o barco amanhece forte. A água das ondas não alcança as bordas e...
Também tem dias que o barco fica vazio... e dá pra ouvir a melancolia das ondas quebrando sozinhas.. levando-o para onde o olho não alcança... no coração do oceano.
Existe um tripulante no barco que eu vivo tentando proteger da fúria do mar.
Ele chegou a pouco tempo e não sabe lidar muito bem.. Não quero que ele vá embora, mas... com certa frequência seu olhar me questiona. Porquê tanta segurança? Assim ele se atira contra as ondas e sorri.
Sorri.
Um sorriso bonito, branco. Paz.
No meio do meu desespero em tentar colocá-lo de volta a bordo, lá está a paz. O branco, o vívido sorriso.
De repente muita água me invade a boca, tento abrir os olhos e as bolhas sobem todas correndo, saindo de mim. Vejo uma superfície azul se aproximar e aquele susto quando num beijo... ele me desafoga e me leva pra longe do mar.
Tem sido assim a minha busca por amontoados de palavras que expliquem ou expulsem de mim o que tenho vivido.
Não que tenha sido ruim. Mas precisa ser ejetado...
Meu corpo é um barco. Tem dias que ele acorda furado e entra muita água... o barco vira, seus tripulantes engolem muita água, os mapas se perdem, as lunetas, os tesouros, as sereias...
Vez ou outra o barco amanhece forte. A água das ondas não alcança as bordas e...
Também tem dias que o barco fica vazio... e dá pra ouvir a melancolia das ondas quebrando sozinhas.. levando-o para onde o olho não alcança... no coração do oceano.
Existe um tripulante no barco que eu vivo tentando proteger da fúria do mar.
Ele chegou a pouco tempo e não sabe lidar muito bem.. Não quero que ele vá embora, mas... com certa frequência seu olhar me questiona. Porquê tanta segurança? Assim ele se atira contra as ondas e sorri.
Sorri.
Um sorriso bonito, branco. Paz.
No meio do meu desespero em tentar colocá-lo de volta a bordo, lá está a paz. O branco, o vívido sorriso.
De repente muita água me invade a boca, tento abrir os olhos e as bolhas sobem todas correndo, saindo de mim. Vejo uma superfície azul se aproximar e aquele susto quando num beijo... ele me desafoga e me leva pra longe do mar.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Por fim...
Sopro a fumaça para cima procurando alguma magia nos meus gestos escuros.
Peço desculpas pelas lágrimas que me escorrem sem querer.
Peço desculpas sempre, por tudo que fiz e agradeço pelo pouco que recebi.
Imagino como seria minha história se as mentiras das pessoas funcionassem comigo.
Doeria menos ?
E pensar que um dia procurei sentido na vida.. em viver.. em estar viva.
Paro. Respiro. Dói.
Os livros que eu não li, os que deixei pela metade, os que me preencheram, os que me fizeram chorar.
As gavetas .. abarrotadas de lembranças de todas as pessoas que conheci.
Minhas fotos antigas, meus diários de criança...Alianças.
Pequenos laços, cartas, bilhetes.
Essas coisas velhas que eu não sei como jogar fora, eu não sei como queimar e continuar vivendo como se aquilo nunca tivesse existido.
É como não me conformar nunca com tudo que acontece.
Algumas fotos eu rasguei, doeu demais. Rasgar não diminuiu nada. Só transformou em metáfora o que eu sentia : o peito rasgado.. os hematomas no plexo solar.. fingindo dormir. Tudo bem...
Já é Novembro.
Sempre nessa época do ano me sinto assim. Vou caminhando e sinto pequenos pedaços ficando caídos, perdidos pelos caminhos desconhecidos que percorro.
Penso em fugas novamente.
Mas fugir daqui não resolve . O problema é comigo.
Enquanto eu não puder fugir de mim, me perder, me esconder, não me ter mais ao alcance dos olhos. Nada vai adiantar.
Não sei o que fazer com todo esse material que usei pra estancar o sangue, agora seco, dessas grandes fendas em ruínas que me tornei.
Forasteiros tentam me escalar e fazem pequenas pedrinhas, pequenos pedaços meus, rolarem montanha abaixo, tornando-me sofrida e menor. Com menos pedras. Entende ?
Não sei como fazer pra não permitir que isso me machuque tanto.
Para que isso não me diminua assim. Ou pelo menos disfarçar que estou quebrada e inutilizável.
Acorrentadas aos meus ombros, estão lembranças que me sangrarão para sempre enquanto eu ainda puder me lembrar... Um dia aleatório,deitada numa calçada.. eu era grande, mas nesse dia, enxerguei-me muito pequena, quase uma criança.. dizendo que eu sabia da força que tinha, e que o choro era por saber que viver doeria para sempre enquanto eu pudesse sentir alguma coisa.
Peço desculpas pelas lágrimas que me escorrem sem querer.
Peço desculpas sempre, por tudo que fiz e agradeço pelo pouco que recebi.
Imagino como seria minha história se as mentiras das pessoas funcionassem comigo.
Doeria menos ?
E pensar que um dia procurei sentido na vida.. em viver.. em estar viva.
Paro. Respiro. Dói.
Os livros que eu não li, os que deixei pela metade, os que me preencheram, os que me fizeram chorar.
As gavetas .. abarrotadas de lembranças de todas as pessoas que conheci.
Minhas fotos antigas, meus diários de criança...Alianças.
Pequenos laços, cartas, bilhetes.
Essas coisas velhas que eu não sei como jogar fora, eu não sei como queimar e continuar vivendo como se aquilo nunca tivesse existido.
É como não me conformar nunca com tudo que acontece.
Algumas fotos eu rasguei, doeu demais. Rasgar não diminuiu nada. Só transformou em metáfora o que eu sentia : o peito rasgado.. os hematomas no plexo solar.. fingindo dormir. Tudo bem...
Já é Novembro.
Sempre nessa época do ano me sinto assim. Vou caminhando e sinto pequenos pedaços ficando caídos, perdidos pelos caminhos desconhecidos que percorro.
Penso em fugas novamente.
Mas fugir daqui não resolve . O problema é comigo.
Enquanto eu não puder fugir de mim, me perder, me esconder, não me ter mais ao alcance dos olhos. Nada vai adiantar.
Não sei o que fazer com todo esse material que usei pra estancar o sangue, agora seco, dessas grandes fendas em ruínas que me tornei.
Forasteiros tentam me escalar e fazem pequenas pedrinhas, pequenos pedaços meus, rolarem montanha abaixo, tornando-me sofrida e menor. Com menos pedras. Entende ?
Não sei como fazer pra não permitir que isso me machuque tanto.
Para que isso não me diminua assim. Ou pelo menos disfarçar que estou quebrada e inutilizável.
Acorrentadas aos meus ombros, estão lembranças que me sangrarão para sempre enquanto eu ainda puder me lembrar... Um dia aleatório,deitada numa calçada.. eu era grande, mas nesse dia, enxerguei-me muito pequena, quase uma criança.. dizendo que eu sabia da força que tinha, e que o choro era por saber que viver doeria para sempre enquanto eu pudesse sentir alguma coisa.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Meus olhos agora.
Eu não posso explicar , simples.
Não posso explicar essa sua morte que ocorre Em Meus Olhos Agora.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
it's torturous..
E desde então eu tenho fugido. Eu sempre quis fugir... É difícil fugir, é difícil arrastar uma culpa mais pesada do que o teu corpo...
Engasgo as palavras gastas e ásperas que eu já mal consigo escrever .. descrever... não sei mais.
E então todas as noites eu fujo , fugi em todas as últimas ..
Não posso me aninhar na cama e ajeitar o rosto no travesseiro ... sem fugir..
Não posso pensar que eu me sinto sozinha como nunca antes me senti..
Não posso pensar que as minhas fugas destruíram o que hoje era pra ser tão alto que você nem enxergaria o topo.
Não posso pensar em algo que me queima por dentro, como se quisesse sair ... rasgar a pele do meu corpo de dentro pra fora... Não posso pensar em nada .. não consigo ...
então eu fujo. Eu desvio como o bom fraco e perdedor que sou .. que me tornei .. com tanta solidão .. não sei.. Nem tenho como saber. Porque eu pergunto a quem está em volta e eles me olham como se ... eles riem na minha cara , porque eles sabem pra onde eu estou caminhando. E eles estão todos certos ... Estou sufocando e meus olhos ardem ..
Estive em todos os becos mais escuros dessa cidade , como uma ladra , como alguém que eu não sei quem é. Quando estou sentada aqui , eu não sei quem é a pessoa que está sentada lá .. nos becos ... destruindo me .. bem devagar.
Nem posso dizer que eu procurei por qualquer refúgio nos lugares errados .. porque eu nem sequer sei se eu estava procurando por algo..
Não posso dizer nada.. quem eu mais amo acabou de passar por aqui, deslizou os dedos nos meus cabelos, me pediu pra contar o que está havendo , pra conversarmos.. e pela primeira vez .. eu não pude dizer.. eu não pude deitar o rosto desesperado no ombro dela pra chorar e contar o que tem me feito desfalecer.. eu não pude !
Não tenho sono , não sinto nada , então eu engulo todos os comprimidos que consigo engolir de uma só vez .. todos os dias , e vou pra minha cama. Coloco fones nos ouvidos , afundo no edredom , olha uma última vez a lua pela janela , fecho-a e passo a madrugada toda assim , fora da realidade . Nos becos escuros da minha mente ... de onde eu temo nunca conseguir sair.
Porque dói muito, estou sufocando. Estou me afogando onde nem sequer tem água pra matar a sede.
Não perdi o controle.. porque eu nunca tive.
Hoje , isso tudo pesou um pouco mais ...porque não procurei nenhum beco escuro e ainda não engoli nenhum comprimido e nada parecido que possa tirar minha consciência. E parece que algo está abrindo caminho nas minhas costelas pra arrancar meu coração de onde está.
É uma dor esquálida partindo de quatro pontos diferentes de um mesmo lugar. Apenas porque estou sóbria.
Engasgo as palavras gastas e ásperas que eu já mal consigo escrever .. descrever... não sei mais.
E então todas as noites eu fujo , fugi em todas as últimas ..
Não posso me aninhar na cama e ajeitar o rosto no travesseiro ... sem fugir..
Não posso pensar que eu me sinto sozinha como nunca antes me senti..
Não posso pensar que as minhas fugas destruíram o que hoje era pra ser tão alto que você nem enxergaria o topo.
Não posso pensar em algo que me queima por dentro, como se quisesse sair ... rasgar a pele do meu corpo de dentro pra fora... Não posso pensar em nada .. não consigo ...
então eu fujo. Eu desvio como o bom fraco e perdedor que sou .. que me tornei .. com tanta solidão .. não sei.. Nem tenho como saber. Porque eu pergunto a quem está em volta e eles me olham como se ... eles riem na minha cara , porque eles sabem pra onde eu estou caminhando. E eles estão todos certos ... Estou sufocando e meus olhos ardem ..
Estive em todos os becos mais escuros dessa cidade , como uma ladra , como alguém que eu não sei quem é. Quando estou sentada aqui , eu não sei quem é a pessoa que está sentada lá .. nos becos ... destruindo me .. bem devagar.
Nem posso dizer que eu procurei por qualquer refúgio nos lugares errados .. porque eu nem sequer sei se eu estava procurando por algo..
Não posso dizer nada.. quem eu mais amo acabou de passar por aqui, deslizou os dedos nos meus cabelos, me pediu pra contar o que está havendo , pra conversarmos.. e pela primeira vez .. eu não pude dizer.. eu não pude deitar o rosto desesperado no ombro dela pra chorar e contar o que tem me feito desfalecer.. eu não pude !
Não tenho sono , não sinto nada , então eu engulo todos os comprimidos que consigo engolir de uma só vez .. todos os dias , e vou pra minha cama. Coloco fones nos ouvidos , afundo no edredom , olha uma última vez a lua pela janela , fecho-a e passo a madrugada toda assim , fora da realidade . Nos becos escuros da minha mente ... de onde eu temo nunca conseguir sair.
Porque dói muito, estou sufocando. Estou me afogando onde nem sequer tem água pra matar a sede.
Não perdi o controle.. porque eu nunca tive.
Hoje , isso tudo pesou um pouco mais ...porque não procurei nenhum beco escuro e ainda não engoli nenhum comprimido e nada parecido que possa tirar minha consciência. E parece que algo está abrindo caminho nas minhas costelas pra arrancar meu coração de onde está.
É uma dor esquálida partindo de quatro pontos diferentes de um mesmo lugar. Apenas porque estou sóbria.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
terça-feira, 3 de maio de 2011
Eu queria fugir.
Já disse muito isso por aqui. Nunca foi novidade , eu sempre quis fugir da minha vida.
Mas não por eu ser covarde ou não suportá-la. Fugir. Só pela adrenalina . Fugir , só por uns dias.
E depois voltar , de ressaca , e ver a preocupação na cara das pessoas mais próximas , tipo : por onde esteve por três dias ?
Mas ao invés disso, eu fico aqui , levanto as seis , esquento o leite , e nos dias mais frios , fico olhando o orvalho escorrer das folhas pela janela estreita.
Seis e quarenta eu coloco os fones nos ouvidos, coloco a outra alça da mochila no ombro , travo a porta e vou.
Caminho um pouco, no frio , eu raciocino bem mais , e mais rápido. Consigo pensar em muita coisa nos vinte minutos que tenho no caminho entre minha casa e a escola.
É cedo , e então meus olhos ardem , porque o céu está claro demais, não está azul como de costume , está bem branco e dói olhar diretamente pra ele.
Enfio as mãos nos bolsos procurando alguma quentura . Não encontro.
Eu chego, esquento alguma coisa para comer , leio durante o dia , estudo um pouco , ouço música .
A noite eu coloco minhas roupas preferidas, todas amassadas e vou caminhar . As vezes sozinha, as vezes não.
Ascendo um cigarro. Olho em volta. Gosto muito desses lugares-esconderijos que sempre vou.
Na maioria das vezes que venho aqui , fumo alguma coisa que acelere meu coração , seque minha boca e me faça demorar o olhar na natureza morta que fica ao redor.
É bom.
Me faz pensar numa velocidade que não sei explicar.
As vezes passam pessoas em volta , e elas me olham como se eu fosse o fundo do poço da sociedade.
Mas eu não me importo. E penso que a cabeça lacrada deles , é o fim da humanidade.
Eu sempre quis alguém que amasse as minhas loucuras , minhas ganas por aventuras e dias frios. Mas eu nunca encontro ninguém. Uma vez encontrei uma pessoa que também gostava de música mexicana. Mas é claro, estranho seria se ele tivesse ficado. Foi embora.
Eu queria fugir. Eu queria alguém para fugir comigo.
Daí eu trago , fundo , ardido. Estou quase tossindo. Me afundo no cobertor e conto as estrelas.
Pisco, primeiro devagar, depois três piscadas rápidas.
Á esquerda , a estrada mais rápida para Wonderland.
Já disse muito isso por aqui. Nunca foi novidade , eu sempre quis fugir da minha vida.
Mas não por eu ser covarde ou não suportá-la. Fugir. Só pela adrenalina . Fugir , só por uns dias.
E depois voltar , de ressaca , e ver a preocupação na cara das pessoas mais próximas , tipo : por onde esteve por três dias ?
Mas ao invés disso, eu fico aqui , levanto as seis , esquento o leite , e nos dias mais frios , fico olhando o orvalho escorrer das folhas pela janela estreita.
Seis e quarenta eu coloco os fones nos ouvidos, coloco a outra alça da mochila no ombro , travo a porta e vou.
Caminho um pouco, no frio , eu raciocino bem mais , e mais rápido. Consigo pensar em muita coisa nos vinte minutos que tenho no caminho entre minha casa e a escola.
É cedo , e então meus olhos ardem , porque o céu está claro demais, não está azul como de costume , está bem branco e dói olhar diretamente pra ele.
Enfio as mãos nos bolsos procurando alguma quentura . Não encontro.
Eu chego, esquento alguma coisa para comer , leio durante o dia , estudo um pouco , ouço música .
A noite eu coloco minhas roupas preferidas, todas amassadas e vou caminhar . As vezes sozinha, as vezes não.
Ascendo um cigarro. Olho em volta. Gosto muito desses lugares-esconderijos que sempre vou.
Na maioria das vezes que venho aqui , fumo alguma coisa que acelere meu coração , seque minha boca e me faça demorar o olhar na natureza morta que fica ao redor.
É bom.
Me faz pensar numa velocidade que não sei explicar.
As vezes passam pessoas em volta , e elas me olham como se eu fosse o fundo do poço da sociedade.
Mas eu não me importo. E penso que a cabeça lacrada deles , é o fim da humanidade.
Eu sempre quis alguém que amasse as minhas loucuras , minhas ganas por aventuras e dias frios. Mas eu nunca encontro ninguém. Uma vez encontrei uma pessoa que também gostava de música mexicana. Mas é claro, estranho seria se ele tivesse ficado. Foi embora.
Eu queria fugir. Eu queria alguém para fugir comigo.
Daí eu trago , fundo , ardido. Estou quase tossindo. Me afundo no cobertor e conto as estrelas.
Pisco, primeiro devagar, depois três piscadas rápidas.
Á esquerda , a estrada mais rápida para Wonderland.
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